quinta-feira, 9 de março de 2006

Match Point - uma vez mais



“As pessoas subestimam a importância da sorte, a questão é se a bola cai de um ou doutro lado da rede” uma frase marcante, que podia ser apenas mais uma, mas neste filme nada é por acaso, absolutamente nada. Esta frase é o mote para todo o desenlace de uma história aparentemente simples – A ascensão social de um jovem ex-tenista, Chris Wilton (Jonathan Rhys Meyers), que conhece as pessoas certas nos momentos certos, que revela talento em tudo o que faz – mas só o consegue demonstrar tendo a sorte de estar lá, naquele preciso sítio, naquela hora exacta. Neste caso no seio de uma abastada família inglesa, que o acolhe de braços abertos. Quer porque a filha se apaixona por ele, ou porque o filho cria uma grande amizade com este, com quem tem aliás aulas de ténis. A empatia com o pai da família é também tremenda, até porque este quer “apenas” ver a filha feliz.

E pronto, tudo a bater certo ao ritmo da ópera que acompanha o filme (Woddy Allen trocou o Jazz e a sua Nova York, pela ópera e a mítica Londres) numa pontualidade tão cara aos britânicos. Mas… Surge a bela Nola Rice (Scarlett Johansson), namorada do cunhado de Chris. A paixão entre Nola e Chris revela-se imediatamente, embora debaixo da descrição de ambos. Daí em diante o conflito interior de Chris cresce sem retorno. A agora sua mulher Chloe é o rosto do carinho, da ternura… Mas Nola é o fruto mais apetecido, o objecto de desejo, aquela por quem Chris iria até às profundezas sem olhar para trás.

E foi de facto, foi tanto que mais não conto, para não estragar o suspense a quem ainda não tenha visto o filme e queira ver. Algo que aconselho vivamente. Não esperem um tradicional Woody Allen, nem um filme romântico onde o amor surge pintado em ternos tons rosa. Ambição versus paixão, de que lado irá a bola cair? E até onde irá o papel da sorte nesta história são curiosidades a ser desvendadas, num filme que surpreende, mas que tem de ser visto com disponibilidade emocional. Caso contrário pode-se cair na leviandade de o considerar banal.

É um filme onde os diálogos, sem surpresa tratando-se de um filme de Allen, são extraordinários. A traição latente até à resolução final não é ofensiva, vive da dualidade para alguém a quem tudo não basta e que se atreve a ridicularizar os pressupostos de justiça. Fielmente cru, tremendamente verosímil, assim é mais esta obra fabulosa de Woody Allen que, na minha opinião, merecia vencer o Óscar de melhor argumento original bem mais do que Crash.

João Malainho